Esse é o segundo (e último) artigo sobre depressão. Se você não leu o primeiro, clique aqui.

Duas amigas minhas faziam terapia com o mesmo terapeuta e amavam. Pedi a indicação para elas, mas ainda fiquei umas duas semanas ruminando a decisão.

Liguei e ele não atendeu. Desisti.

Demorei mais uma ou duas semanas para tentar de novo e finalmente tudo acertado. Encontrar tempo era o grande desafio agora.

Fiz uma ginástica no meu horário e o terapeuta idem, para me ajudar. E lá fui eu.

A empatia foi imediata. Marcelo tinha sido meu professor de matemática no segundo grau e mudou de carreira, assim como eu. É uma das pessoas mais inteligentes que eu conheço, o que para mim é essencial, porque eu testo isso o tempo todo no outro e ele percebia o que eu fazia, o que normalmente as pessoas não percebem. Enfim, nos demos super bem, exceto quando ele se atrasava alguns minutos (eu era a primeira cliente) e eu quase arrancava a cabeça dele com o olhar. 😉

Cerca de dois meses depois ele pediu que eu procurasse um psiquiatra. Disse que acreditava que eu estava em depressão.

Depressão? Eu?

Mas eu estava ali, de pé, como todos os dias! Eu não tinha desejos suicidas, tristezas profundas, vontade de me afundar no travesseiro! Como assim?

Ele me indicou um psiquiatra da confiança dele e já fez o contato para passar meu caso para ele. Ou seja, eu não tinha mais muito como fugir.

Marquei a consulta e muito relutante eu fui. Tenho lembranças de como foi todo o meu caminho de casa até o consultório dele, de como eu estava abalada por precisar de um psiquiatra. Eu sempre resolvi tudo sozinha, por que agora eu precisava disso?

Cheguei no consultório e a consulta durou quase uma hora e meia. Ele sacou muita coisa muito rápido do que eu falava. Apontou situações para eu trabalhar na terapia sobre o meu casamento e meu trabalho, confirmou que eu não tinha síndrome do pânico (os ataques de pânico que eu tive não chegaram a caracterizar a síndrome) e deu a sentença: eu estava deprimida. Ele chamou de “depressão masculina”, onde eu estou sempre arrumando mais e mais coisas para fazer no meu dia a dia para não lidar com minhas emoções. Claro que isso tudo acontece no nível do subconsciente. Não é algo do tipo “não estou a fim de pensar no sofrimento, vamos fechar mais um contrato para eu ter mais coisa para fazer e pensar menos”. Bom, é isso, mas de forma muito mais instintiva. Um instinto de sobrevivência até.

E aí começou mais uma saga. Ele me indicou um remédio, um antidepressivo e pediu que eu continuasse na terapia.

Quando eu entrei no carro saindo do consultório, eu desabei. Chorava sem parar, fui dirigindo chorando até a faculdade.

Demorei mais alguns dias para comprar o remédio, ou melhor, para aceitar que eu precisava de medicação. Conversei com meu terapeuta, ele me ajudou nesse processo.

E fui eu comprar meu remédio e dar a notícia aos mais próximos. Da mesma forma que eu tive dificuldades em entender que eu estava deprimida e ativa, todos à minha volta também tiveram.

Às vezes acho mais fácil para as famílias ajudarem quando elas percebem traços de depressão como a tristeza e a prostração. Eu nunca tinha ouvido falar em uma depressão como a minha, não sabia que isso existia. E ainda assim, ali estava eu.

Bom, eu não me adaptei ao primeiro antidepressivo indicado. Os efeitos colaterais eram tantos e tão fortes que eu não aguentei.

Veio a segunda indicação. Mais 2 a 3 semanas de sufoco. Lidar com esses efeitos foi para mim quase tão difícil quanto com a doença em si.

Fomos para o terceiro. Esse durou um mês e meio.

Chegamos no quarto remédio e eu decidi jogar a toalha.

Mas até isso, deu para perceber que foram alguns meses, não deu? Durante esse tempo eu fazia terapia e tentava entender melhor o que acontecia comigo.

Eu tenho um mecanismo de defesa em que eu esqueço essas situações de stress, então muitas vezes as pessoas me questionam por que eu voltei a trabalhar nesse lugar se eu já sabia que era esse nível de problema. E eu realmente não sei. Achei que eu iria lidar melhor, o que acabou sendo uma verdade parcial. Eu lidei melhor no sentido de me preservar e preservar os outros, mas para a minha chefia, eu passei a ser mais difícil de lidar porque eu já não era mais imatura e, de certa forma, manipulável. Mas, enfim, eu voltei porque eu precisava daquele dinheiro, eu gostava da função em si (apesar de não gostar do ambiente de trabalho pernicioso) e eu tinha guardado tudo que eu tinha passado no fundo da minha mente, dentro de um baú para ninguém encontrar, nem eu…

Bom, tivemos um crise instalada no gabinete e em um enfrentamento com o meu chefe ele me despediu.

Naquele momento eu já não tinha mais como aguentar passar por aquilo tudo. Apesar de meu marido sempre pedir para eu segurar mais um pouco por causa da grana, tínhamos acabado a obra há pouco tempo, ainda estávamos apertados, aquela era a última gota para mim.

E eu não poderia recuar, eu tinha sido despedida. Eu sabia que ele, o meu chefe, não queria isso de verdade, porque eu tinha muitas funções importantes lá, mas ele assumiu o risco quando me mandou embora e era minha hora de ir.

Precisei de muita coragem para não pedir pra voltar. Aos poucos consegui o apoio familiar e eu estava certa de que não poderia mais viver daquele jeito, ficando doente.

Isso coincidiu com a tentativa de remédio número 4.

Duas semanas depois da minha saída eu estava mais leve e novamente não adaptada à medicação. Fiz contato com o meu psiquiatra que resolveu testar como eu ficaria sem tomar nada. E assim foi.

Continuei a terapia e decidi que precisava me cuidar depois disso tudo. Estava alguns quilos acima do peso, sem atividade física e com dores fortes na região dorsal.

Nos meses seguintes o que aconteceu foi que eu continuei com a faculdade, continuei com a minha empresa, mas resolvi fazer um rebranding, porque eu tinha negligenciado um pouco o meu negócio.

Intensifiquei a fisioterapia, porque as dores, na verdade, aconteciam por conta do stress, eu retesava tanto minha musculatura nas costas que ela pressionava minhas costelas e elas se moviam um pouco. Essa tensão muscular aliada com a força na ossatura, eu tinha me davam dores absurdas. Então passei a frequentar um osteopata duas vezes na semana, o que mudou muito minha qualidade de vida também.

Fui a um endocrinologista que também trabalha com medicina do esporte e com ele descobri que eu estava com hipotireoidismo subclínico, o que, apesar de ser bem leve, fazia com que eu tivesse dificuldade para emagrecer e um cansaço maior que o normal.

Fui à nutricionista e comecei minha mudança nos hábitos alimentares. Eu sei que eu ainda não me alimento como eu deveria, mas tem sido um processo desde lá, em 2014, em que tenho aos poucos me conscientizado sobre os benefícios a longo prazo e melhorando a qualidade do que eu como.

Voltei à atividade física com o pilates dentro da clínica de fisioterapia que eu já frequentava. Quando eu estava apta eu passei a fazer esteira e transport também lá na clínica, assim os fisioterapeutas me supervisionavam. Conforme eu fui melhorando das dores, minha frequência no osteopata diminuiu e eu passei a ter um personal em uma academia perto da minha casa.

Com ele eu tinha ânimo de malhar e mudava os exercícios cada dia que eu ia, a gente malhava batendo papo e isso passou a ser um momento também de prazer.

De início essa readaptação ao mundo não foi simples, ter que fazer esse monte de mudanças no meu dia a dia ao mesmo tempo em que deixei de ter a maior parte da minha renda foi complicado. A relação no casamento também sofreu um pouco, apesar dele ter me apoiado bastante no processo de recuperação.

Eu continuei a terapia ainda por muito tempo.

As crises de pânico pararam e eu joguei a última receita de antidepressivo fora alguns meses depois da minha saída.

Outro dia eu estava ouvindo um podcast que eu gosto e uma terapeuta estava falando sobre depressão e quando perguntaram a ela sobre como superar isso, ela respondeu: autocuidado. E foi aí que eu percebi que foi exatamente isso que eu instintivamente fiz e que funcionou muito.

Hoje eu consigo perceber quando estou assumindo muitas coisas querendo fugir de outras e já seguro a onda e tento manter minha rotina de alimentação e atividade física. Aliás, isso será tema de outro post em breve.

Se você passou por alguma situação parecida, não tenha medo de se abrir. Procure terapia e faça coisas que ama, ajude seu corpo e sua mente. Se ajudar falar sobre isso, comente aqui sua experiência.

Lanna.London
Author

Lanna Schmitz Em algum lugar da faixa dos 30, escorpiana, viajante, carente e eterna mutante.

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