Por Michelle Simão, Mi

Foi há quatro anos que eu estava sentada na cadeira do escritório de comunicação em que eu trabalhava, no Rio, pensando inquieta que aquilo que eu fazia já não me bastava. Sempre gostei do meu trabalho, mas uma sensação tomava conta de mim. Não sabia exatamente o que era, mas sentia que queria fazer algo maior, dar um passo grande e de muito significado na minha vida.  Podia ser um corte de cabelo, uma mudança de apartamento, dizer alguma coisa pra um amigo, um filho, ou fazer um novo curso. Podia ser várias coisas. 

Michelle Simão

Foi quando entrou na minha caixa de entrada de e-mail, a primeira mensagem do meu marido, (que na época era meu namorado), com a ideia de passar seis meses fora do país para aprender inglês. Quando li, me deu aquele frio na barriga e meu coração disparou.  Entendi super rápido que essa ideia batia exatamente com a sensação que eu estava buscando. Mas imediatamente o medo tomou conta de mim. Como eu faria com a segurança de sair de um trabalho de carteira assinada, salário na conta todo mês, contas pagas e aquele conforto?! Como eu teria coragem pra largar tudo isso?

Foram uns três meses trocando e-mails e lendo histórias de outras pessoas que tinham vivido o que estávamos buscando. Mas a cada conversa com amigos, sempre ouvíamos:

“Vocês são doidos?!”. Ninguém apoiava a gente. Parecia uma loucura mesmo.

Em seis meses, compramos nossas passagens, pedimos demissão, arrumamos a mala e viemos para a Austrália. País novo, cultura nova, língua que não falávamos, não tínhamos emprego e o dinheiro  no bolso era contado. Primeiro sentimento: D-E-S-E-S-P-E-R-O! Segundo: SENSAÇÃO DE LIBERDADE e VONTADE DE VIVER. Aqui, foi a primeira vez que nos reinventamos, pois precisávamos nos adaptar à tudo que era novo. E apesar de dar aquela sensação de férias em estarmos vivendo tudo aquilo, não foi fácil. Imagina você que adora falar, não poder se comunicar porque não sabe a língua local? Colocamos o medo debaixo do braço e fomos em frente, abraçar o mundão.

Viemos como estudantes, o que nos dava legalmente a possibilidade de trabalharmos. Bora procurar um emprego, então?! Aqui, nos reinventamos novamente! Eu havia saído do escritório de comunicação e iria procurar emprego como garçonete ou faxineira. Parece fácil né?! Mas não foi. Foi muito mais difícil do que imaginei. Perdi as contas de quantos NĀO eu recebi tentando trabalho para limpar casa ou servir pessoas no restaurante. Por que não me aceitavam? 

Depois de dois meses tentando, finalmente o retorno de uma ligação me chamando para entrevista. Nunca esqueço que falava com minha mãe no telefone e dizia da vergonha que sentia em ter que trabalhar num lugar que não era um escritório e não me daria nenhum tipo de status. Eu nem sabia que sentiria isso. Um dia minha mãe me mandou uma matéria de uma menina que viveu exatamente a mesma coisa que eu estava vivendo naquele momento. E hoje em dia, ela era dona do próprio negócio, uma loja de fazer bolos, onde ela trabalhava feliz e com amor. Aquilo ficou na minha cabeça. Fui perdendo a vergonha. Eu precisava do trabalho. Venci esse medo do julgamento e do que os outros iam pensar sobre mim. Fiquei mais forte. Trabalhei como faxineira, como garçonete e aprendi muita coisa. Aqui, me reinventei novamente. 

Aprendi a fazer a cama como nunca ninguém havia me ensinado. Aprendi a ter “atenção ao detalhe”, que toda vaga de cleaner exigia essa skill. Passei a arrumar minha casa como nunca havia feito antes. Como garçonete, aprendi a carregar a bandeja pesada sorrindo, aprendi que quando vamos a um restaurante, queremos viver uma experiência e não somente comer e ir embora. Como eu aprendi! Me tornei supervisora no restaurante onde trabalho. Podia estar satisfeita, mas não. Senti falta de me comunicar, criar conteúdo, da época do escritório, mas não exatamente daquilo. 

Aqui, me reinvento novamente, criando meu Canal no Youtube, investindo como aquela menina da loja de doce investiu no negócio dela e deu certo. Agora, aprendo sobre edições de vídeos, conteúdo, mídias sociais e por aí vai.  Minha dica para você: vai com medo mesmo. A sensação de desconforto é uma delícia, te faz acordar todos os dias motivado! Se reinvente!

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