Sei que o tema separação é muito difícil de se falar, de acessar essa área dentro de nós. Quando decidi escrever sobre isso, tinha certeza de que não seria fácil. Cada texto foi recheado com lágrimas e reavaliações sobre os momentos narrados.

Minha esperança era de que escrever sobre isso ajudasse no meu processo, mas também que pudesse ajudar nos processos alheios, de quem vive situações similares, ou não.

E foi muito grata a experiência que eu tive até aqui. Muitas pessoas não sabiam que eu havia me separado, pois eu não sou de expor minha vida pessoal, outras pessoas vieram no particular demonstrar solidariedade e algumas também vieram trazer seus próprios depoimentos, pois de algum modo o que eu escrevi lhes tocou.

Segue abaixo um texto escrito pela Camila Anllelini, amiga do coração, que decidiu partilhar um pouco da sua própria experiência inspirada pelo InspiraTerapia.

Obrigada, Camila, por ter conseguido compartilhar aqui um pouco da sua vivência.

Bjks em todos,

Lanna.London

 

 

Com a palavra, a tal da separação

As pessoas querem saber o porquê. Querem um motivo, um fato, querem saber o dia exato em que você levantou da cama, depois de um lindo jantar romântico em uma noite inesquecível e decidiu se separar.

Um porquê? Quando uma separação bate à porta há uma sucessão de “porques”, ou da falta deles. No meu caso era tudo misturado e nem eu sabia explicar.

Algumas pessoas se separam por um evento trágico, mas nem sempre é assim. A verdade é que as grandes encenações, roupas postas do lado de fora, armadilhas e detetives costumam morar mesmo só nos roteiros de ficção. Vez ou outra alguém se inspira e resolve pôr em prática uma cena de novela mexicana. Mas os pequenos gestos do dia a dia – ou, de novo, a falta deles – são mais que suficientes pra minar os sonhos de um futuro a dois.

Nunca fui do tipo que acha que contrato firmado segura qualquer parada. Tampouco de acreditar que a cada mudança de humor temos o direito de jogar tudo para o alto. Mas, convenhamos, nutrir relação é algo trabalhoso.

Se está dando apenas trabalho e a felicidade tem passado longe, então talvez seja hora de repensar o que estamos fazendo nesse espaço de tempo a que chamam de vida.

Pensar que só eu estava infeliz é autossabotagem; ninguém é infeliz sozinho. Ninguém é infeliz em uma relação onde o outro vive em um mar de rosas, leve e sorridente.

Pois bem, decisões tomadas, vem a parte mais dura da história, a parte que ninguém quer contar: ver o outro sofrer. Sentir-se responsável pelo sofrimento alheio é das dores mais intensas e agudas que podem existir, dói na alma e no corpo.

Em muitos momentos, quem escolhe se separar, pensa que merece a penitência. Quem mandou ter a ideia de destruir uma família? Será que não dava mesmo pra aguentar um pouco mais? E se as coisas voltassem para o lugar? Será que tudo o que reclamei nos últimos anos não poderia mudar?

Peraí! Ainda bem que a lucidez vai passear um pouquinho, mas volta pra ter umas conversas francas comigo. Aguentar? Eu casei pra dividir a vida, sendo leve ou pesada, mas dividida. Mais do que isso, compartilhada. Carregar fardos sozinha não fazia parte do combinado. Caso faça pra você, repense.

E sobre as coisas voltarem pro lugar? Que lugar é esse? Eu não estou mais no mesmo lugar e, se tudo der certo, continuarei caminhando.

E sobre as mudanças? Só acontecem quando queremos. Passar a vida reclamando disso ou daquilo definitivamente não faz ninguém mudar, ou talvez faça, mas para longe de nós.

Eu gostaria que tivéssemos conseguido nos reinventar juntos, mas quando percebi isso já tínhamos nos perdido. Restou então nos reinventarmos sozinhos, cada um em seu novo caminho.

Se é possível o amor sobreviver sozinho, eu não sei. Se alguém consegue alimentar sonhos que não são mais compartilhados, não quero pagar para ver.

Mas os dramas vividos no casamento, esses sim, não restam dúvidas, são sempre vividos a dois”.

 

Este é o terceiro texto da série sobre divórcio.

Para ler o primeiro, clique aqui. (a palavra que dói)

Para ler o segundo, clique aqui. (os desafios: o lar)

 

Lanna.London
Author

Lanna Schmitz Em algum lugar da faixa dos 30, escorpiana, viajante, carente e eterna mutante.

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