E os desafios que a separação apresentou não pararam. Ou melhor, eles param algum dia? Às vezes percebo que eles continuam chegando mesmo quase dois anos depois…

Mas outra grande dificuldade foi buscar um novo lar para chamar de meu.

O apartamento onde morávamos, nós mesmos fizemos o projeto de reforma, tocamos a obra, escolhemos os tijolos que estavam na nossa parede da sala, o balde que era nossa pia no banheiro, os eletros lindos e funcionais que estavam na nossa cozinha. Desapegar de um espaço que não era só uma casa, mas era o nosso lar moldado à nossa maneira para abrigar os nossos sonhos foi muito difícil.

O processo de venda do apartamento ajudou.

Quando decidimos vendê-lo separar não era o plano, mas acabou se tornando uma boa solução. E também foi bem importante nesse processo de desapego.

Mas toda vez que eu sentava para encaixotar alguma coisa eu chorava.

E ele entrou em negação. Ele sabia que o imóvel estava vendido e que teríamos que mudar, mas se recusava a preencher uma caixa, como se isso fosse mudar alguma coisa. Mudou para mim, claro, que tive que fazer quase tudo sozinha. Quando percebeu que não tinha mais jeito, uma semana antes de sairmos da nossa casa, que ele começou a ajudar com a mudança.

Essa negação também veio das famílias. Todos estavam tão tristes com o fim do nosso casamento que preferiram não se envolver em nada. Cada um vivendo o seu luto. Mas e o MEU luto? Eu também não tinha o direito a isso? Não podia passar o dia inteiro na cama chorando pelos meus sonhos todos destroçados? Não, eu não podia me dar a esse luxo, porque as coisas práticas estavam ali batendo na minha porta, tocando meu despertador diariamente e me lembrando da realidade brutal que aquele momento representava.

E as buscas por apartamentos de 2 quartos se tornaram buscas por apartamentos de quarto-sala.

Cada vez que eu fazia uma visita eu simplesmente não me imaginava naquele lugar. Em lugar nenhum! Aquela situação me deixou sem referência.

Teve um dia que conversávamos sobre a procura e eu naturalmente falei para ele ir comigo ver. Depois de algumas horas a ficha caiu. Ele não poderia mais fazer parte dessa decisão.

Então, antes de eu sair de casa para aquela visita eu falei isso para ele e ele mesmo percebeu o quanto aquilo não fazia sentido.

Quando cheguei em casa daquela visita eu chorei no elevador, abri a porta e dei de cara com ele também chorando.

Há esses momentos em que a realidade bate em nós com força.

Eu visitei vários apartamentos e estava realmente cansada! Marquei no meu caderninho mais 3 apartamentos e falei: chega! Vou decidir essa semana.

E assim foi.

Desses três últimos, um deles era em um bairro que, não só eu nunca tinha morado, como nunca tinha imaginado morar. Ele nunca gostou desse bairro. Toda vez que eu mostrava um apartamento lá ele havia rejeitado antes.

Mas agora a decisão era minha e só minha.

Acho que parte da razão pela qual eu estava indo naquele bairro rejeitado era para mostrar a minha revolta interior, era uma necessidade minha de desafiar e mostrar (para mim mesma, verdade seja dita) quem estava no comando.

E não é que o bairro rejeitado teve muito a me oferecer?

Eu entrei no apartamento, pequenininho, mas todo jeitoso. A luz entrava pela mini varandinha e refletia no piso. Em alguns minutos eu estava sentada no chão desenhando a planta, tirando medidas.

Eu lembro de olhar para o corretor (eu no chão e ele em pé ao meu lado) e falar: acho que eu estou me sentindo em casa, né?

Ele sorriu e me entregou a ficha, que eu preenchi ali mesmo no chão e entreguei.

Em menos de duas semanas eu estava com as chaves e comecei o processo de transformar aquele apartamento no meu novo lar.

As caixas eu levava aos poucos. Lembro do primeiro banho que tomei lá, ainda cheia de malas em volta e com água fria porque o gás não tinha sido religado.

Antes mesmo de os móveis chegarem, amigas se reuniram na mini-varanda com champanhe.

Ninguém ali comemorava a minha separação, mas todas comemoravam a minha superação por eu estar em uma casa nova e iniciando uma nova etapa.

Ah, como esses ritos de passagem nos ajudam!

O dia da mudança final foi corrido. Tínhamos que tirar tudo do apartamento antigo. Eu e ele éramos um time de novo. Mas era muito trabalho a fazer, já que a negação dele o impediu de fazer as coisas com calma, só tivemos um final de semana basicamente pra tirar tudo, mandar os móveis que cabiam na minha casa nova serem entregues lá e arrumar um depósito para os outros, mandar caixas e mais caixas de uma vida em conjunto embora.

No fim do ultimo dia entregamos as chaves juntos aos novos moradores do nosso amado apartamento e ele veio comigo para a minha casa nova. Estávamos cansados física e emocionalmente. Comemos uma pizza, bebemos um vinho e dormimos. Juntos.

Minha primeira noite na casa nova de separada foi… com ele.

Simplesmente apagamos e a presença do outro naquele dia foi apenas reconfortante. Foi como tinha que ser. Fico hoje pensando no que isso representou para mim, mas só enxergo que era aquela familiaridade necessária em um momento de choque.

Na manhã seguinte tomamos café juntos e ele partiu para a casa da mãe. O silêncio imperou na minha sala nova onde caixas de livros serviam de rack para a TV.

Mas aquele era meu novo lar. Sozinha de novo.

Este é o segundo texto da série sobre divórcio. Para ler o primeiro, clique aqui.

 

Instagram: @lanna_schmitz

Site: www.lanna.london

E-mail: lanna.ldn@gmail.com

 
Siga este blog pelo Bloglovin

Lanna.London
Author

Lanna Schmitz Em algum lugar da faixa dos 30, escorpiana, viajante, carente e eterna mutante.

Write A Comment

Pin It